domingo, 28 de agosto de 2011

Em Nome da Rosa



Existem diversas maneiras de se começar uma crítica literária. Pois há muitos livros no mundo e eles falam de muitas coisas. Por onde começar? Por um grande mestre? Por um grande tema? Por desmedida cautela, ou quem sabe um tremendo respeito, limito-me a falar sobre um livro que fale sobre outros livros, ou melhor, do amor por eles.

Amor por livros, este é o ponto central de O Nome da Rosa, do ensaísta, filósofo, medievalista, semiólogo e adjetivos a perder de vista, ultra brilhante Umberto Eco. Livro de estréia do romancista italiano, a ação se desenrola em um mosteiro beneditino na Itália da Baixa Idade Média. Guilherme de Bakerville, um monge franciscano apaixonado por lógica, é convocado para desvendar a misteriosa morte de um jovem e brilhante confrade, antes da realização de um encontro sobre reformas na Igreja crista, que será realizado na abadia.

Narrado em primeira pessoa, no que parece ser uma referencia ao estilo de crônica medieval, o idoso e alquebrado monge Adso de Melk rememora os eventos que presenciou ao lado de seu mestre Guilherme: uma trama intrincada envolvendo lutas políticas pelo controle da abadia, sodomia, heresia, inquisição e claro, a busca por livros proibidos. Todas as disputas teológicas e filosóficas ocorridas no interior da abadia revelam o clima tenso em que se encontrava a Europa do século XIII. Devia ou não a igreja possuir, ao mesmo tempo, poder espiritual e temporal? O grande mérito de Eco reside justamente em situar o leitor nos dois lados da querela, demonstrando que entre o êxtase divino e a luxuria da heresia, não existe mais que um curto passo.

O caminho dos homens pode ser traçado pela força de sua razão, abrindo as portas do desconhecido ou será o contrário, existem verdades que nasceram para permanecer ocultas, uma vez que as glórias do conhecimento pertencem a Deus e não ás suas insignificantes criaturas? O livro prende o leitor a cada página e a cada momento revela os perigos de uma visão deturpada de mundo, expondo como essa pode espalhar-se eclipsando o melhor guia do ser humano: o bom senso. Ao final da obra, uma conclusão macabra de um silogismo muito bem feito, fica a impressão de que o mal se esconde em várias faces, de demoníacas a angelicais, exibindo-se em seu aspecto mais grotesco: a intolerância.